Morre aos 68 anos o músico "Magro" Waghabi, do MPB4
Morreu hoje, 8 de Agosto, por volta das 6 da manhã, de câncer, o "Magro", do MPB-4. A principio, tudo não passou de mais uma nota de falecimento nos jornais, mas na verdade o "Magro", ou Antônio José, como eu o conhecia, marcou minha vida e por ele eu nutria uma admiração especial.
Éramos
vizinhos no bairro de São Francisco, em Niterói, subúrbio do Rio, e nossos pais, melhores amigos de infância.
Frequentava sua casa desde menino e seu avô, o "Seu José", como era
conhecido na vizinhança, foi meu grande tutor, minha grande fonte de inspiração, meu professor
particular de pintura, desenho e escultura por três memoráveis anos. Com ele eu
aprendi praticamente tudo que soube de arte na minha vida. Costumava chegar da
escola, tirar o uniforme, pegar minha bicicleta, meu material de desenho, e ir correndo
para a casa do “Seu José”, que morava nos fundos da casa do “Waghabi”, o pai do
Magro, para minhas aulas particulares com ele. Lembro-me claramente de uma vez
quando ele se dirigiu a meu pai e disse: “Nunca dei aula de nada a ninguém, mas
esse menino é diferente, gosto muito dele e acho que ele tem um futuro enorme
pela frente, quero ensinar tudo que puder a ele”.
O
“Magro” era o mais velho de três filhos assim como eu também sou o mais velho
dos meus irmãos. Seu pai, assim como o meu (os dois, como se diz, eram “farinha
do mesmo saco”, não era a toa que eram melhores amigos), queria de todos os
modos que ele se formasse em engenharia. Foi um escândalo na família quando o “Magro”
abandonou a faculdade pra seguir sua paixão pela música. Logo ele que, como o mais
velho, deveria dar o exemplo para o resto dos irmãos. Sempre tive uma admiração
profunda por ele, não só pelo seu talento, mas, sobretudo, pelo fato de ele ter
tido coragem de seguir seu coração, coisa que, na época, eu não tive. Me lembro
com clareza de muitas conversas a noite, em casa, ao redor da mesa de jantar, quando meu
pai comentava: “Esse menino – o Magro – está perdido, isso não é coisa de gente
decente, tenho pena do pai dele...”. Tanto meu pai quanto o Waghabi, o pai do “Magro”,
eram partidários da ideia de que filho homem tinha que ser doutor, ou medico ou
engenheiro, que aquele negócio de “arte” era coisa de “viado” ou de vagabundo. Com
toda a pressão da família, e na fase mais negra da ditadura militar (como se
diz em bom Inglês: “Against all odds”), o Magro deixou a carreira pra seguir
seu coração. E deu no que deu. Viveu TODA a sua vida fazendo o que amava, música.
Foram quase 50 anos dedicados exclusivamente a sua paixão. Fundou o MPB-4, compôs
e arranjou musicas para Vinicius de Morais, Pixinguinha, Chico Buarque e outros
“monstros” da musica popular brasileira.
Mudei-me
do Brasil ainda jovem e, ano passado, em uma passagem pelo Rio, depois de
muitos anos longe do Brasil, tive o prazer de dar-lhe um abraço durante um show
patrocinado pela Repsol no Rio de Janeiro. Foi um prazer enorme ouvir o MPB-4
tão de perto e depois de tantos anos fora. Foi um prazer ainda maior poder
dar-lhe um abraço forte depois de quase toda uma vida sem vê-lo. Ele me recebeu
com um carinho especial e até emocionado. Me abraçou diante do publico presente, se virou para resto dos integrantes da banda e disse: “Esse e
um grande amigo de infância, que não via há muitos anos, nossos pais eram
melhores amigos e ele frequentava a minha casa quando era menino.”
Morre
um grande sujeito, uma pessoa admirável, um tremendo expoente da musica popular
brasileira, mas, sobretudo, morre um cara que soube seguir o seu coração. O
legado que ele deixa para a MPB e para a própria alma do Brasil e imensurável!
Vá
com Deus, “Magro”.
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