Wednesday, August 8, 2012




Morre aos 68 anos o músico "Magro" Waghabi, do MPB4


Morreu hoje, 8 de Agosto, por volta das 6 da manhã, de câncer, o "Magro", do MPB-4. A principio, tudo não passou de mais uma nota de falecimento nos jornais, mas na verdade o "Magro", ou Antônio José, como eu o conhecia, marcou minha vida e por ele eu nutria uma admiração especial. 


Éramos vizinhos no bairro de São Francisco, em Niteróisubúrbio do Rio, e nossos pais, melhores amigos de infância. Frequentava sua casa desde menino e seu avô, o "Seu José", como era conhecido na vizinhança, foi meu grande tutor, minha grande fonte de inspiração, meu professor particular de pintura, desenho e escultura por três memoráveis anos. Com ele eu aprendi praticamente tudo que soube de arte na minha vida. Costumava chegar da escola, tirar o uniforme, pegar minha bicicleta, meu material de desenho, e ir correndo para a casa do “Seu José”, que morava nos fundos da casa do “Waghabi”, o pai do Magro, para minhas aulas particulares com ele. Lembro-me claramente de uma vez quando ele se dirigiu a meu pai e disse: “Nunca dei aula de nada a ninguém, mas esse menino é diferente, gosto muito dele e acho que ele tem um futuro enorme pela frente, quero ensinar tudo que puder a ele”.

O “Magro” era o mais velho de três filhos assim como eu também sou o mais velho dos meus irmãos. Seu pai, assim como o meu (os dois, como se diz, eram “farinha do mesmo saco”, não era a toa que eram melhores amigos), queria de todos os modos que ele se formasse em engenharia. Foi um escândalo na família quando o “Magro” abandonou a faculdade pra seguir sua paixão pela música. Logo ele que, como o mais velho, deveria dar o exemplo para o resto dos irmãos. Sempre tive uma admiração profunda por ele, não só pelo seu talento, mas, sobretudo, pelo fato de ele ter tido coragem de seguir seu coração, coisa que, na época, eu não tive. Me lembro com clareza de muitas conversas a noite, em casa, ao redor da mesa de jantar, quando meu pai comentava: “Esse menino – o Magro – está perdido, isso não é coisa de gente decente, tenho pena do pai dele...”. Tanto meu pai quanto o Waghabi, o pai do “Magro”, eram partidários da ideia de que filho homem tinha que ser doutor, ou medico ou engenheiro, que aquele negócio de “arte” era coisa de “viado” ou de vagabundo. Com toda a pressão da família, e na fase mais negra da ditadura militar (como se diz em bom Inglês: “Against all odds”), o Magro deixou a carreira pra seguir seu coração. E deu no que deu. Viveu TODA a sua vida fazendo o que amava, música. Foram quase 50 anos dedicados exclusivamente a sua paixão. Fundou o MPB-4, compôs e arranjou musicas para Vinicius de Morais, Pixinguinha, Chico Buarque e outros “monstros” da musica popular brasileira.

Mudei-me do Brasil ainda jovem e, ano passado, em uma passagem pelo Rio, depois de muitos anos longe do Brasil, tive o prazer de dar-lhe um abraço durante um show patrocinado pela Repsol no Rio de Janeiro. Foi um prazer enorme ouvir o MPB-4 tão de perto e depois de tantos anos fora. Foi um prazer ainda maior poder dar-lhe um abraço forte depois de quase toda uma vida sem vê-lo. Ele me recebeu com um carinho especial e até emocionado. Me abraçou diante do publico presente, se virou para resto dos integrantes da banda e disse: “Esse e um grande amigo de infância, que não via há muitos anos, nossos pais eram melhores amigos e ele frequentava a minha casa quando era menino.”

Morre um grande sujeito, uma pessoa admirável, um tremendo expoente da musica popular brasileira, mas, sobretudo, morre um cara que soube seguir o seu coração. O legado que ele deixa para a MPB e para a própria alma do Brasil e imensurável!

Vá com Deus, “Magro”.

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