Sunday, January 22, 2012

A China Inova

A China inova

Merval Pereira, O Globo - Sábado 21 Janeiro 2012

A China, revelada esta semana mais urbana que rural, busca agora um crescimento qualitativo tanto no seu desenvolvimento social quanto no tecnológico.
O processo de evolução das empresas chinesas está baseado no amadurecimento de sua capacidade de desenvolver tecnologia e produtos inovadores. O 12º Plano Quinquenal, que está em vigência desde março do ano passado, tem o objetivo central de fazer migrar o padrão de desenvolvimento da China para indústrias avançadas e desenvolvimento tecnológico, em busca do que classificam de “harmonização da sociedade”.
A intenção é promover um “pouso suave” para um crescimento médio de 7% do PIB nacional “com qualidade”, com metas que incluem a promoção do consumo, redução das diferenças sociais através da melhoria do salário mínimo e metas de eficiência energética.
O plano quinquenal pretende mudar a expressão Made in China, ligado a produtos de baixa qualidade, por Designed in China, com a ambição de tornar a China um país “orientado para a inovação” até 2020.
Essas são algumas das conclusões de um documento resultado de um “termo de cooperação” entre a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, sob o comando do ministro Moreira Franco, do PMDB do Rio, e a COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ abrangendo três setores que, combinados, produzem sinergias poderosas na conformação da base tecnológica de uma indústria nacional/regional: químico, eletroeletrônico e metal-mecânico.
O propósito era avançar na compreensão das vantagens competitivas das empresas chinesas, além dos custos baixos de mão de obra, câmbio sub-valorizado e subsídios governamentais.
Aspectos ligados à infra-estrutura logística e carga tributária foram analisados marginalmente no estudo, que abrangeu não só o conteúdo de avanços em campos específicos, mas também nas formas de organização de produção e inovação, e de relacionamento das empresas com Universidades e Institutos de Pesquisas.
Foram visitados departamentos e laboratórios das universidades de Tsinghua, em Beijing (que tem um Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas e Energia e é uma referência nacional, onde muitas lideranças chinesas estudaram, inclusive o Presidente Hu Jintao); de Zejiang em Hangzhou; Tianjin, em Tianjin; o Instituto de Tecnologia de Tratamento da Água e um instituto da Academia de Ciências da China.
“Nada poderia ser mais central para a competitividade chinesa que a velocidade e a consistência de seu desenvolvimento tecnológico”, conclui o estudo.
O saldo é uma indústria ampla e diversificada, em diferentes estágios de maturidade e com diversas maneiras de governança.
As empresas estatais centrais, ligadas ao governo de Beijing, são distintas das empresas estatais locais e as empresas coletivas, e todas diferentes das empresas privadas.
O relatório afirma que, ao longo do estudo, ficou evidente o papel das políticas públicas na definição da trajetória de sucesso das empresas, políticas não apenas definidas pelo governo central mas também a nível provincial e das municipalidades e prefeituras.
Há um evidente processo de influência mútua entre empresas e governos no estabelecimento das estratégias empresariais e das políticas públicas.
Bons exemplos são as empresas Haier, de eletrodomésticos; Huawei, de telecomunicações; a Guodian, de geração eólica, a Desano, em insumos farmacêuticos, e muitas outras.
O caso do setor de geração eólica é particularmente exemplar, destaca o estudo. Nos anos 90 o governo central sinalizou que o setor era essencial para o desenvolvimento do país, e as empresas começaram a prospectar o campo, as universidades promoveram estudos e pesquisas e enviaram quadros para doutoramento no exterior.
Em 2005 o governo lançou uma política de apoio à indústria, e as empresas começaram a fazer acordos de transferência de tecnologia promovendo ciclos de inovação secundária, com formação de capacitações tecnológicas, até mesmo para a produção de turbinas eólicas.
Em 2011, as empresas chinesas já estão trabalhando com tecnologias de ponta em processos de inovação secundária avançada, e a China de torna o país com maior potência eólica instalada no mundo, representando 23% do total mundial, superando Estados Unidos e Alemanha.
O processo de planejamento governamental chinês tem dois eixos principais: o Plano Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia de 2006 a 2020, centrado no princípio de “inovação autônoma”; e o Plano Quinquenal.
O investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, que em 2005 era de 1,35%, será equivalente a 2% do PIB chinês, para chegar a 2,5% em 2020.
Em cinco anos a meta é obter avanços científicos e tecnológicos também com educação da mão de obra para conseguir qualidade e eficácia na economia.
Três setores terão prioridade: saúde, energia e tecnologia. As indústrias-chave serão biotecnologia, novas energias, fabricação de equipamentos de ponta, conservação de energia e preservação ambiental, combustíveis limpos para veículos, novos materiais e nova geração de tecnologia da informação.
A China aumentou sua participação na exportação mundial de 3,9% em 2000 para 10,3% em 2010, ultrapassando a Alemanha em exportações.
Além de inundar o mundo com bens de consumo a preços baixos, a China tem exportado bens de capital, aumentando sua produtividade no exterior. A partir de 2006, apenas a China e a Coréia do Sul aumentaram sua participação nas exportações globais.
O estudo faz uma comparação com o Brasil: em 2000, a maior parte das exportações de Brasil e China era de baixa intensidade tecnológica (alimentos, matérias primas, têxteis e outros manufaturados).
Em 2009, a China reduziu em 16% essas exportações, aumentando a participação das de média (químicos básicos, maquinário elétrico, plástico) e alta tecnologia (fármacos, bens óticos).
Já o Brasil aumentou 11 pontos percentuais na exportação de baixa intensidade tecnológica, e reduziu também as de média e alta tecnologia. (Continua)

21.01.2012
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08h01m



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