Thursday, January 19, 2012

Triste História do Desenvolvimento Industrial no Brasil

Brilhante o artigo do professor Marcelo Coutinho (“Risco de Destruição” - O GLOBO - Quinta-feira, Janeiro 19, 2012). Como ele próprio cita, é inacreditável como a suposta “elite” intelectual deste país se recusa a enxergar esta realidade. Voltemos, por exemplo, a 30-e-poucos anos atrás quando me formei em Engenharia Naval pela UFRJ. Naquela época o Brasil era o segundo maior construtor naval do mundo em tonelagem de aço processado, seguido de perto pela Coréia do Sul. Lembro que nossos estaleiros e engenheiros navais caçoavam dos “colegas” Coreanos alegando que lá se trabalhava todo um dia para receber como pagamento uma tigela de arroz ao final do dia. Hoje, pouco mais de 30 anos depois, a Coréia do Sul tem umas das indústrias navais mais poderosas e avançadas do mundo enquanto a nossa, está completamente sucateada.

Mas não ficaram somente na indústria naval. A indústria Coreana de eletrônicos hoje é uma das mais modernas do mundo, passando mesmo a Japonesa. E não é só isso. Lembro claramente de um dos primeiros sedãs Coreanos lançados nos EUA há mais ou menos uns 25 anos atrás, o Hyundai Elantra. Era a piada do mercado automobilístico americano; só imigrantes pobres, estudantes e empregadas domésticas compravam o Elantra. Recentemente, o Elantra foi eleito o melhor carro do salão de automóveis de Detroit.

História semelhante também se observa na Noruega que, ao final da segunda grande guerra, era um país eminentemente agrícola. Hoje, em pouco mais de 60 anos, tem o maior índice de desenvolvimento humano do mundo. Claro que as ricas reservas de petróleo no Mar do Norte grandemente favoreceram a Noruega, mas notem que lá o petróleo não foi descoberto até 1952 enquanto no Brasil a primeira jazida foi descoberta na Bahia em 1939. A Noruega hoje detém a tecnologia mais avançada do mundo para exploração e produção de petróleo enquanto nós, que descobrimos petróleo muito antes deles, ainda importamos tecnologia.

Nesses últimos 30-50 anos, a Coréia do Sul nos deu a Hyundai, a Kia, a Samsung, a Daewoo, a LG, entre outras. Nesse mesmo tempo a Noruega desenvolveu a indústria de petróleo mais avançada do mundo e deixou de ser uma nação eminentemente agrícola para alcançar o maior IDH dentre todos os outros países do planeta. E nós, nesse meio tempo, caimos da 37ª para a 44ª posição no ranking de desenvolvimento industrial das Nações Unidas, conseguimos sucatear a indústria naval que já tivemos um dia, fechamos nossa única fabrica nacional de motores (FNM), e sequer conseguimos produzir um par de sapatos que compita com os importados chineses. Não desenvolvemos sequer um radinho de pilhas nacional e as poucas tentativas de criar uma indústria automobilística Brasileira (como a Gurgel, por exemplo), fracassaram. Abdicamos da idéia de que uma nação rica é uma nação industrializada e nos recolhemos a triste realidade de uma nação extrativista como éramos a 60 anos atrás. Triste história essa a do “desenvolvimento” industrial no Brasil.

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